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Os riscos das dietas: efeito yo-yo

Nutrëncia

Os riscos das dietas: efeito yo-yo

O que é dieta?

 O termo dieta vem do grego diaita e ao longo do tempo tem vindo a obter um significado diferente daquele que o originou1.

Originalmente dieta descreve um modo de vida e no dicionário refere-se à ingestão habitual de alimentos, mas também abstenção de alguns ou de todos os alimentos.

No contexto da nutrição, dieta refere-se a um padrão alimentar, mas também relacionado a dietas terapêuticas, ou seja, modificações no padrão alimentar normal adequado para responder a necessidades específicas1.

Quando falamos num contexto social, o termo dieta é utilizado para nos referirmos a dietas de emagrecimento, com privação de alguns alimentos ou até mesmo de grupos completos (como os hidratos de carbono ou a gordura)1.

Dieta como restrição alimentar

Assim, aqui estamo-nos a referir a dieta como restrição alimentar, ou seja, como uma mudança na quantidade e/ou qualidade dos alimentos ingeridos, com o objetivo de controlar ou alterar o peso corporal. Este conceito pode incluir saltar refeições ou jejuar propositadamente, restringir alimentos considerados “pouco saudáveis”, diminuir a quantidade ingerida, consumir apenas alimentos considerados “saudáveis”, diet e/ou light e todas as dietas da moda, como o detox.

A vulgarização e valorização de dietas restritivas está diretamente relacionado com o atual conceito de beleza para a sociedade, no entanto, a propagação de algumas dietas não tem relação direta com um aumento do conhecimento científico, uma vez que existem inúmeras dietas onde não existe qualquer evidência científica dos seus benefícios, estando muitas vezes documentados sim os seus riscos.

A maior parte das pessoas desconfia de dietas com nomes despropositados como por exemplo, “dieta do ovo”, mas é muito menos discutido e tornou-se até banal outras formas de restrição como dietas sem glúten para “se sentir melhor” ou “desinchar” quando não há nenhuma intolerância diagnosticada e, portanto, nenhuma evidência de que haja alguma benefício na retirada desta proteína da alimentação.

Uma grande parte dos estudos que avalia a eficácia de dietas de emagrecimento, avalia apenas a curto prazo, não se sabendo a sua eficácia e os possíveis riscos e consequências que podem estar associados a longo prazo.

Do ponto de vista científico, existem inúmeros estudos que demonstram que a perda de peso depois de uma dieta não é mantida por mais de metade das pessoas2, sendo que alguns estudos referem que cerca de mais de 90% das pessoas não consegue manter o peso perdido a longo prazo3.

Para além disto, estes estudos ainda demonstram que as dietas restritivas podem levar a várias consequências negativas, tanto físicas como emocionais, promovendo uma obsessão por comida, distúrbios do comportamento alimentar e consequentemente aumento do risco de obesidade2.

Efeito yo-yo e os seus riscos

Existem vários mecanismos que nos explicam porque é que as dietas não funcionam, entre eles o efeito yo-yo.

O efeito yo-yo é um mecanismo desenvolvido por pessoas que estão constantemente a entrar em dieta, perdem peso, deixam de fazer dieta (porque esta não é sustentável a longo prazo) e ganham o peso todo novamente4.

Este efeito faz com que ocorra uma maior eficiência energética – ou seja, o nosso organismo melhora o uso da energia (calorias), o que dificulta a perda de peso e promove o seu reganho4.

Um estudo que avaliou ex-atletas que competiam em desportos com classes de peso (lutadores, levantadores de peso e boxeadores) que devido à modalidade, estiveram várias vezes em efeito yo-yo, uma vez que têm necessidade de obter um peso corporal específico para as competições, e comparou com ex-atletas de modalidades que não exigiam estas alterações no peso5.

Verificou-se que os ex-atletas que tinham passado por maior efeito yo-yo nos seus anos de competição tinham uma percentagem mais elevada de obesidade do que aqueles que não tinham competido por classes de peso. Para além disso, o efeito yo-yo também foi associado a maior ganho de peso, maior risco de desenvolvimento de transtorno de compulsão alimentar, stress psicológico, menor bem-estar geral e uma distribuição da composição corporal menos saudável5.

No mesmo sentido, um estudo publicado em 2021 avaliou a associação entre o risco de desenvolvimento de diabetes e as oscilações de peso em adultos saudáveis, verificando-se que as pessoas que tiveram efeito yo-yo no peso tiveram mais 23% de probabilidade de desenvolver diabetes6.

Assim, é necessário entender que uma dieta, a longo prazo, pode até ter o efeito contrário e levar a um aumento de peso. O efeito yo-yo é um mecanismo adaptativo do nosso organismo que o tenta defender da restrição de calorias da alimentação.

Portanto, é preciso ter atenção que muitas vezes a perda de peso ocorre pela diminuição da massa muscular ou água e não necessariamente da massa gorda, o que leva a alterações como a diminuição do gasto energético e aumento da eficiência energética, e quando volta a comer normalmente há um reganho de peso (muitas vezes maior do que o peso que tinha sido perdido) e na forma de massa gorda, o que aumenta o risco de várias doenças, como a doença cardiovascular, e leva a uma maior insatisfação corporal.

 

Referências bibliográficas

  1. Falcato, J. & Graça, P. A evolução etimológica e cultura do termo “dieta.” Revista Nutrícias 24, 12–15 (2015).
  2. Curioni, C. C. & Lourenço, P. M. Long-term weight loss after diet and exercise: A systematic review. International Journal of Obesity vol. 29 1168–1174 (2005).
  3. Field AE, Wing RR, Manson JE, Spiegelman DL & Willet WC. Relationship of a large weight loss to long-termweight change among young and middle-aged USwomen. International Journal of Obesity 25, 1113–1121 (2001).
  4. Brownell, K. D., C Greenwood, M. R., Eileen Shrager, E., Stellar, E. & Shrager, E. E. The Effects of Repeated Cycles of Weight Loss and Regain in Rats. Physiology & Behavior 38, 459–464 (1986).
  5. Saarni, S. E., Rissanen, A., Sarna, S., Koskenvuo, M. & Kaprio, J. Weight cycling of athletes and subsequent weight gain in middleage. International Journal of Obesity 30, 1639–1644 (2006).
  6. Zou, H. et al. Association between weight cycling and risk of developing diabetes in adults: A systematic review and meta-analysis. Journal of Diabetes Investigation 12, 625–632 (2021).

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