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Fome física e fome emocional: que diferenças?

Fome física vs fome emocional - diferenças

A fome é toda igual?

Quando pensamos em fome a primeira ideia que temos é a fome ligada a uma grande vontade de comer, por exemplo, “ainda não almocei, estou com fome”. No entanto, a fome pode não ser só ligada ao tempo em que ficamos sem comer (em jejum).

Podemos dividir a fome em dois grandes tipos:

  • Fisiológica (também chamada de física)
  • Hedónica (também chamada de emocional)

Estes dois componentes são o que constitui aquilo que chamamos de apetite.

Apesar de muitas vezes se fazer uma separação da fome física e emocional, a verdade é que as duas atuam juntas.

Fome física

A fome física é controlada a longo prazo (horas) por hormonas que regulam a nossa fome (grelina) e saciedade (leptina e insulina).

Mas também existem controlos de curto prazo (minutos), ligado por exemplo à composição e tamanho da refeição, onde vão ser libertadas hormonas (CCK* e GLP-1**) que indicam ao nosso corpo que temos que parar de comer ou em que momento temos que comer de novo.

Os controlos de longo prazo comunicam-se com os de curto prazo e vão estimular regiões específicas no nosso cérebro.

A fome física não está relacionada com nenhum alimento em específico e embora a falta de energia seja o principal estímulo deste tipo de fome, uma grande parte das pessoas pode não conseguir reconhecer os seus sinais internos de fome e depender de outros sinais, como os horários das refeições que nos são socialmente incutidos1.

*CCK – colecistoquinina

**GLP-1 – péptido semelhante a glucagon 1

Fome emocional

A fome emocional está relacionada com controlos ligados ao nosso sistema de recompensa no cérebro.

O sistema de recompensa é a área no cérebro que processa informações relacionadas com as sensações de prazer ou satisfação. Tudo o que é recompensante – como a comida, ouvir uma música que gostamos ou receber um abraço – ativa esta zona específica do nosso cérebro.

Pensando no comportamento alimentar, o sistema de recompensa também determina a nossa procura por comida e é sensibilizado por uma série de relações que temos com o ambiente, por exemplo, ansiedade, o que sentimos em relação à comida, experiências, situações sociais em que nos encontramos, etc2.

Este sistema tem a participação importante de um neurotransmissor chamado de dopamina, ligado às sensações de prazer e motivação.

A fome física e a fome emocional interagem entre si  

Por exemplo, por vezes, pode ter fome física, mas sentir-se com vergonha de comer em frente a alguém, o que se irá sobrepor às hormonas que indicam que deve comer.

Assim, o comportamento alimentar é determinado tanto pela fome física como pela fome emocional.

Como diferenciar a fome física da fome emocional?

Sinais

  • Na fome física o corpo emite sinais que indicam que está com fome: dores de estômago, falta de energia, dores de cabeça, falta de concentração, irritabilidade, entre outros.
  • Na fome emocional os sinais físicos não estão presentes

Quando

  • Na fome física já passou algum tempo desde a sua última refeição.
  • Na fome emocional pode não ter passado muito tempo desde a sua última refeição.

Como

  • A fome física surge de forma gradual e não está associada ao desejo de um alimento específico.
  • A fome emocional aparece de forma repentina e está associada a um desejo por um alimento específico, por exemplo “tenho fome de chocolate” ou abrir o frigorífico sem saber o que está à procura

Sentimento

  • Na fome física, após a ingestão da refeição há uma sensação de saciedade e satisfação
  • Na fome emocional, as refeições não saciam ou satisfazem e pode levar a um sentimento de culpa e/ou vergonha no final

Como controlar a fome emocional?

O ato de nos alimentarmos não é apenas fisiológico, todos temos fome emocional e isso é completamente normal.

Assim, a fome – seja ela física ou emocional – não se controla!

Uma má relação com a comida acontece quando os alimentos são utilizados para “tapar buracos” emocionais ou problemas que em nada estão relacionados com a alimentação.

É comum que em momentos de sofrimento se recorra à alimentação na procura de prazer, como uma alternativa para atenuar sentimentos negativos. No entanto, não é expectável que a comida seja a única forma de lidar com este tipo de situações.

Assim, torna-se muito importante aprender de que forma pode lidar com estas questões sem recorrer à comida.

Referências

  1. Basdevant, A. B. & le Barzic, M. Eating Patterns: From Normal To Pathological. (1993).
  2. Alonso-Alonso, M. et al. Food reward system: Current perspectives and future research needs. Nutrition Reviews 73, 296–307 (2015).
  3. Berridge, K. C., Robinson, T. E. & Aldridge, J. W. Dissecting components of reward: “liking”, “wanting”, and learning. Current Opinion in Pharmacology vol. 9 65–73 (2009).

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