Porque é que ter um plano alimentar pode ser uma péssima ideia?
O plano alimentar é um documento entregue na maior partes das consultas de nutrição com um conjunto de regras: os horários em que deve comer, quais os alimentos e em que quantidades.
Isto pode fazer sentido para algumas pessoas, como pessoas com doenças específicas onde o controlo daquilo que comem tem de ser apertado e também pessoas com objetivos muito específicos e rígidos, como atletas de alta competição.
No entanto, para a grande maioria das pessoas a verdade é que um plano alimentar não faz sentido e não vai ajudar a pessoa a alcançar os seus objetivos. Isto porque, quando dependemos de alguém que nos diga aquilo que comer e em que horários, não ganhamos a autonomia necessária para manter os resultados a longo prazo.
A verdade é, ninguém se imagina a seguir um plano para o resto da vida, certo? Os planos alimentares podem fazer sentido num período específico de tempo.
Então qual é o problema de usar um plano alimentar num processo de perda de peso?
O problema é que a perda de peso de forma sustentável só é possível quando os comportamentos que nos levaram até ela, também são possíveis de manter a longo prazo. Não podemos querer seguir um papel que dita aquilo que devemos fazer, perder peso e esperar que quando já não estamos a cumprir o que nos levou à perda de peso, que o peso se mantenha – não vai acontecer!
A melhor forma de garantir uma perda de peso saudável e sustentável é através da mudança comportamental, como já explicámos aqui.
Um plano alimentar, é um nome pomposo para uma dieta, muitas vezes bastante restritiva que tem consequências graves a médio-longo prazo. E sabe-se que 95% das pessoas que seguem uma dieta, voltam a ganhar todo o peso perdido (e às vezes ainda mais!) num prazo entre 3 a 5 anos.
1. O plano alimentar piora a sua relação com a comida
Se pretende melhorar a sua relação com a comida e acabar com os pensamentos de 8 ou 80 na alimentação – um plano alimentar para além de não ser a solução, a probabilidade de exacerbar ainda mais esta mentalidade é grande.
Isto porque, o plano num fundo trata-se de um papel com um conjunto de alimentos que deveria comer. Até aí tudo bem, a questão é que isto irá criar um distinção entre alimentos bons (aqueles que fazem parte do plano) e alimentos maus (aqueles que não fazem parte e só devia comer no dia do lixo – outra péssima ideia!)
Esta mentalidade irá fazer com que nos dias em que cumpra o plano se sinta muito orgulhosa de si, porque se “portou bem”, mas nos dias em que não consegue cumprir (porque não é suposto comermos o mesmo todos os dias) sinta que falhou consigo própria.
O que não faz qualquer sentido! É normal que a nossa alimentação varie e ninguém quer passar os dias a comer exatamente os mesmos alimentos.
2. Não temos as mesmas necessidades todos os dias
O plano alimentar é feito com base em cálculos das necessidades diárias de calorias. Este cálculo apesar de parecer promissor, apenas tem em conta se é homem ou mulher, o seu peso, altura e nível de atividade – ou seja, tem bastantes falhas.
Primeiro, porque o peso de forma isolada não diz nada. O que importa saber o peso, se não temos ideia da composição corporal (massa gorda e massa muscular)?
Depois, não temos as mesmas necessidades todos os dias, mas o plano alimentar assume que sim! É normal que nem todos os dias tenhamos necessidade de comer as mesmas quantidades, porque naturalmente existem dias mais exigentes onde vamos ter necessidade de comer mais e outros dias em que vamos ter menos fome e não precisamos de comer tanto.
3. O plano alimentar não promove a mudança de comportamentos e retira a sua autonomia
Como já explicámos em cima, para atingirmos objetivos – independentemente de quais sejam – é necessário que mudemos os comportamentos. Não podemos querer correr a maratona (objetivo), se o nosso comportamento diário é ficar sentado no sofá e não fazer atividade física.
Para conseguirmos atingir o objetivo, temos de mudar comportamentos que nos levem até ele. Portanto, para o objetivo se manter, os comportamentos também têm de se manter.
Quando falamos de perda de peso, com um plano alimentar restritivo, a verdade é que até pode conseguir lá chegar. Mas mal deixe de fazer o plano (que será insustentável de manter a longo prazo), o peso voltará a subir.
Para além disso, uma vez que o plano alimentar assume que as suas necessidades são as mesmas todos os dias e lhe dita exatamente o que deve ou não comer – estará a retirar-lhe toda a autonomia e fará com que ignore os seus sinais de fome e saciedade – isto levará a uma pior relação com a comida.
Em suma, um plano alimentar pode fazer sentido para casos muito específicos, mas se é uma pessoa saudável e os seus objetivos passam por mudar comportamentos, seguir um plano alimentar não só não irá ajudá-la, como ainda poderá contribuir para uma má relação com a comida, com a atividade física e com o corpo.
Lembre-se que independentemente do profissional de saúde que consultar, deve questionar todas as verdades absolutas e perguntar o porquê de cada estratégia utilizada. Não assuma que apenas por estar a falar com um profissional, ele tem todas as respostas. “Porque que sim” certamente não é resposta e ninguém melhor que nós próprios sabe aquilo que faz ou não sentido.
Um beijinho,
Clara Magalhães Dias (4862N) & Tiago Sabino (4952N)
Nutricionistas Comportamentais
Pós-graduados em Comportamento Alimentar
Especialização em Transtornos do Comportamento Alimentar
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