Qual o impacto das redes sociais no peso e imagem corporal?
Todos os dias somos impactados com conteúdos nas redes sociais. São feitas partilhas diárias que nos expõem a mensagens que promovem dietas e pessoas que mostram um ideal de beleza irrealista, o que perpetua uma expectativa de padrão socialmente aceite com foco na magreza das mulheres1.
São utilizadas nestas partilhas chavões de saúde, de modo a criar um maior impacto nos seguidores. No entanto, já existem diversos estudos que demonstram que o conteúdo que promove perda de peso tem um impacto prejudicial, tanto na saúde física e mental dos seguidores, principalmente mulheres adolescentes e jovens adultas (18-30 anos), dada a alta popularidade das redes sociais nestes grupos1.
Sabe-se que este tipo de conteúdos tem um impacto negativo na imagem corporal, o que pode levar a um desejo de emagrecer de forma rápida e inconsciente, o que em último caso se pode mesmo traduzir no desenvolvimento de um comportamento alimentar perturbado ou até mesmo de um distúrbio de comportamento alimentar1.
Conteúdos “fitspiration”: motivação ou comparação?
Nos últimos anos surgiu uma tendência nas redes sociais, principalmente no Instagram e mais recentemente no TikTok, onde há a partilha e o acompanhamento de conteúdo “fitspiration” (junção de fitness e inspiração), com o objetivo de inspirar as pessoas a obterem uma determinada imagem corporal através de mudanças na alimentação e hábitos de atividade física.
A pesquisa pela hashtag “fitspiration” no Instagram deu origem a mais de 19 milhões de publicações.
Apesar das boas intenções deste tipo de conteúdos, existem vários elementos de inspiração que são preocupantes.
Estas imagens e vídeos de inspiração incluem a representação repetida de um tipo de corpo (magro e tonificado), que é inatingível para algumas mulheres. Geralmente são jovens a praticar exercício e a comer alimentos entendidos como mais saudáveis pelo público em geral (sumos verdes, papas/panquecas, saladas, etc.)2.
Para além destas, também se encontram conteúdos com mensagens que induzem a culpa a quem não consegue atingir aquele aspeto físico, fotografias com a comparação estética de “antes e depois” e mensagens que promovem atitudes extremas como comportamentos compensatórios (vomitar, fazer exercício em excesso, uso de laxantes, etc.) de forma alcançar o corpo “perfeito”2.
Vários estudos demonstram que o consumo deste tipo de conteúdos levou a uma maior comparação e consequente insatisfação corporal, assim como, aumento do desejo de magreza. Da mesma forma, considera-se que imagens ou vídeos que mostram o “antes e depois” podem ter consequências negativas na autoimagem, sendo que o “antes” daquela pessoa pode ser o “depois” de quem está a consumir aquele conteúdo1–3.
Ciclo de dietas vicioso
Assim, percebe-se que apesar da alimentação e estilo de vida ser um tema extremamente debatido no mundo online e geralmente serem associados a uma melhoria do estado de saúde, a verdade é que a maior parte dos conteúdos publicados estão assentes em restrições ou dietas, nem sempre de forma consciente, por meio da cultura da dieta que se encontra tão presente na sociedade.

Desta forma e sabendo que a insatisfação corporal é o primeiro passo para entrar num ciclo de dietas vicioso este é um tema preocupante.
Pessoas com maior grau de insatisfação corporal têm um maior risco de iniciar uma dieta, muitas vezes sem acompanhamento de um profissional habilitado. Esta, inicialmente, até se pode traduzir numa perda de peso, no entanto, sabe-se que a grande maioria das pessoas que perde peso não o que consegue manter a médio-longo prazo e corre ainda o risco de ganhar mais peso do que aquele que tinha inicialmente, gerando mais insatisfação e perpetuando este ciclo.
Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) cerca de quase 60% da população mundial tem excesso de peso e quase 25% tem obesidade4.
A obesidade é uma doença multifatorial, o que significa que não pode ser atribuída uma única causa ao seu desenvolvimento. É sim, derivada de um conjunto de fatores desde genéticos, ambientais, sociais e psicológicos5.
Assim, sendo as redes sociais utilizadas por grande parte da população mais do que uma vez por dia, consumir conteúdos que aumentam, mesmo que inconscientemente, a insatisfação corporal, pode levar diretamente a um ganho de peso e até mesmo ao desenvolvimento de comportamentos alimentares desequilibrados.
Unfollow terapêutico
Devemo-nos sempre lembrar que os conteúdos publicados pela grande maioria das pessoas são acerca de conquistas e o lado positivo do que acontece nas suas vidas, o que pode levar os seguidores a sentirem-se inferiores ou com uma vida não tão preenchida de conquistas.
Devemos avaliar se pessoas que seguimos e acompanhamos diariamente nas redes sociais nos acrescentam realmente valor e nos deixam com melhor disposição, mais produtivas, inspiradas ou motivadas, ou se por outro lado, nos mandam para baixo e nos fazem sentir que não somos ou estamos a fazer o suficiente.
Deste modo, conseguimos estabelecer um limite para que isto não afete a nossa saúde mental e seguir apenas pessoas que nos ensinam algo ou nos entretenham positivamente.
Deixar de seguir pessoas “tóxicas” pode-se chamar de unfollow terapêutico onde deixamos de seguir pessoas que sentimos que não nos acrescentam valor. O que não significa que a pessoa esteja a produzir conteúdo de má qualidade, simplesmente decidimos que para nós aquele tipo de conteúdo não faz sentido ou não nos acrescenta nada de positivo.
Assim, sugerimos que aproveite para avaliar que contas segue nas redes sociais e fazer uma limpeza daquelas que já não tem interesse em consumir.
Referências
- Dumas, A.-A. & Desroches, S. Women’s Use of Social Media: What Is the Evidence About Their Impact on Weight Management and Body Image? Current Obesity Reports 8, 18–32 (2019).
- Holland, G. & Tiggemann, M. “Strong beats skinny every time”: Disordered eating and compulsive exercise in women who post fitspiration on Instagram. International Journal of Eating Disorders 50, 76–79 (2017).
- Fardouly, J., Willburger, B. K. & Vartanian, L. R. Instagram use and young women’s body image concerns and self-objectification: Testing mediational pathways. New Media and Society 20, 1380–1395 (2018).
- Organisation for Economic Co-operation and Development. The Heavy Burden of Obesity: The Economics of Prevention. https://www.oecd.org/health/the-heavy-burden-of-obesity-67450d67-en.htm (2019).
- Jastreboff, A. M., Kotz, C. M., Kahan, S., Kelly, A. S. & Heymsfield, S. B. Obesity as a Disease: The Obesity. Obesity 27, 7–9 (2019).
Sem comentários